Com a pandemia, o confinamento, e todas as alterações que daí advieram, a forma como trabalhamos e consumimos alterou-se.
Nasceram novos hábitos, comportamentos, formas de estar. O mundo como o conhecemos despareceu, para dar lugar a uma nova realidade onde o trabalho das 09h às 17h, num espaço determinado ao qual chamamos local de trabalho desapareceu.
As equipas de trabalho hoje são globais, os horários são flexíveis, as pessoas estão conectadas 24 horas, nasceram serviços que funcionam 24h/7 e podemos ter clientes em qualquer parte do mundo através do e-commerce, trabalhando a partir de casa.
A sociedade, antes de tudo isto, tinha um relógio comum, o que significa que muitas tarefas eram feitas ao mesmo tempo por muita gente: horas de ponta para o trabalho, almoços das 13h às 14h, horário do telejornal às 20h etc.
A sociedade partilhava um calendário ou cronograma de tarefas comuns. Existia um elo de ligação pela atividade, que hoje desapareceu. Cada um de nós é dono do seu ritmo, trabalha por tarefas, e esquece o relógio e os horários rígidos. Cria-se assim uma nova sociedade com vários ritmos, mas mais fragmentada e dividida.
Se por um lado surgiram imensos movimentos solidários no mundo inteiro, vimos também ondas de violência explodirem. Estamos num mundo imprevisível e bipolar que muda diariamente! Sentimos medo em relação às alterações climáticas, perspetivas económicas, saúde e sociedade civil, o que nos afeta a todos!
Com todo este caos instalado, o que procura o novo consumidor?
As tendências no consumo foram alteradas.
Nunca se venderam tantas bicicletas, piscinas insufláveis e equipamentos de desporto ao ar livre. Compramos cestas de picnic, barbecues caseiros e boias de praia gigantes. Já sabemos que férias em destinos longínquos não constam dos nossos planos nos próximos tempos e decidimos todos descobrir melhor o nosso país, fazendo férias cá dentro.
Passamos a comer mais comida caseira, a fazer pão, a comprar na mercearia ao lado de casa. Abrimos o roupeiro e nunca as palavras renovar, reciclar e reutilizar fizeram tanto sentido!
Levamos marmita para o emprego, partilhamos refeições na mesa do escritório que até podemos encomendar através de uma plataforma sem sair do nosso espaço, e preferimos convívios com poucas pessoas em casa do que grandes eventos com muita gente. Conseguimos perceber que conseguimos viver com menos e que temos bens materiais de sobra. Explodiram as vendas em segunda mão, a troca de roupa usada e acessórios usado, a doação de roupa de criança ou livros.
Destaco assim, após uma análise aos novos tempos, alguns drivers nas tendências futuras de consumo. O que vamos privilegiar? O que procuramos?
1 - Ambientes de compras sem stress permanecerão uma prioridade do consumidor, assim como as compras através de e-commerce onde cada marca pode contar a sua própria história. Ninguém quer filas, de pé, com a máscara posta! No entanto os lojistas, para atraírem clientes às lojas estão a apostar em mensagens positivas, cores revigorantes, e em designs retro e nostálgico para nos transmitir uma sensação de conforto. O comércio reinventa-se!
Procuramos marcas que nos inspirem, através do seu storytelling.
Queremos conforto aliado a design. Queremos slow fashion em vez de fast fashion.
2 - Surge uma maior importância na sociedade das micro comunidades.
As pessoas vão construir laços mais fortes com os vizinhos, no seu bairro e no seu próprio país, dando mais valor à economia de proximidade. Vamos querer comprar localmente, criando uma rede de entre ajuda comunitária e económica.
3 - Preocupação ambiental. Redução do impacto ambiental e crescimento das marcas sustentáveis, que alinhem com os nossos valores.
Juntando estes dois últimos drivers: Preferimos um cabaz bio da vizinha do lado a ir comprar a um grande hipermercado. Comemos melhor e ajudamos o negócio.
4 - Maior valorização de pessoas mais idosas, julgadas não pela sua idade, mas pelas suas capacidades.
5 - A transformação opera em várias frentes: Olhamos cada vez mais para o futuro e menos para o passado. Preocupamos-nos com o planeta e menos com o indivíduo isolado, queremos optimismo, conforto, cores quentes, e objectos antigos com história.Valorizamos o que nos transmite segurança e positivismo.
Estas são na minha opinião as futuras tendências no consumo em Portugal.
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